quinta-feira, 21 de maio de 2009

Susan Boyle Gets Fucked ou A minha utopia hoje


Um dia desses, lendo a parte de empregos do jornal li os requisitos que uma loja pedia para seus futuros funcionários. Além de proatividade e dinamismo pedia também outra “qualidade”: boa aparência.


Acho digno que as pessoas procurem ter uma aparência saudável, o problema é quando nós só damos valor a isso, esquecendo que somos muito mais do que apenas um monte de pele e cabelo.
Parece que nos últimos anos vem ocorrendo um culto exacerbado à aparência. São gastas fortunas para obter sempre a aparência de vinte-e-poucos-anos. Não vemos mais pessoas andando nas ruas, o que vemos são pedaços de corpos, cadáveres com feições imóveis de botox e sorriso de colágeno.


Não faz muito tempo, acessando o UOL deparei-me com um link que dizia “Susan Boyle recebe oferta de US$1 Milhão para fazer filme pornô”. Assustei com o valor do cachê que ofertaram a mulher, daí resolvi entrar no Youtube para ver algum vídeo da moça.


Era uma senhora com seus 40, 50 anos, obesa, desajeitada, desarrumada, desengonçada, enfim, FEIA. Ela ia se apresentar em um programa de calouros da Inglaterra, famoso por ridicularizar os artistas que se apresentam, se julgarem que tais artistas merecem ser ridicularizados.

Depois de se identificar a uma platéia e jurados céticos e esnobes, que já a julgavam com risadas cínicas e olhares de desdém, ela começou então a cantar, e silenciou o auditório. Não se ouvia mais risadinhas. Olhares desdenhosos se transformaram em olhares incrédulos e aterrorizados com apenas uma nota. Durante dois minutos e meio, ela calou o auditório com seu canto. Mesmo após terminar a canção, a platéia permanecia atônita, como se estivessem se observando no espelho através de Susan pela primeira vez, sem maquiagem, sem Photoshop.


Susan simplesmente foi ela mesma: brilhantemente humana. Talvez algum dia nossa sociedade descobrirá melhor como as nossas virtudes são belas e atemporais e nossas imagens provisórias, efêmeras. Até lá, viveremos numa época em que a aparência das pessoas é mais valorizada do que o talento e o dom que elas possuem, tendo que nos transformar em bonecas Barbie ou Max Steel para sermos aceitos como bons profissionais.

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