quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Borboletas na guerra


Já que ninguém mais lê blogs, postarei isto aqui.
Pequeno fragmento de uma série de mensagens trocadas com uma grande pessoa...

Texto rico em metáforas.
Não tentem isto em casa.
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Parte 1 - O e-mail

05/12/12
Heric <####### @ ###mail . com>
para
<####### @ ###mail . com>
  
Um jovem soldado, dentro de sua trincheira, avista mais uma ameaça.
Com as armas em punho, aponta o rifle em direção ao objeto não identificado. Ele mirou e percebeu que tal objeto, na verdade, tratava-se se de uma borboleta - algo que nunca tinha aparecido naquele campo de batalha. O soldado ficou fascinado com aquele ser que desfilava no céu. Suas asas cintilavam dourado e azul; cada bater de asas era como se a borboleta sorrisse para o combatente. " - Como pode existir algo assim, tão belo, tão especial, neste mundo podre?" o soldado questionou, enquanto avistava, maravilhado, àquele fenômeno que surgia diante de seus olhos tristes e cansados. Não se ouvia mais os barulhos dos tiros e das bombas.

O ser sibilante se aproximou do rapaz e, por algum motivo não explicado, a borboleta dourada tocou na ferida do soldado, que se assustou com o gesto e atirou para o alto. Depois do tiro dado à esmo, o combatente olhou ao seu redor e não mais a viu. Ela se foi, sem se despedir. Ele não sabe se a feriu. Assustado com seu gesto impulsivo, e sentindo um misto de remorso e tristeza por aquilo que fez e por tudo o que enfrentara, o jovem largou sua arma no chão e chorou: pela primeira vez, depois de tantos anos de guerra. Só depois de espantar a borboleta ele foi perceber que ela também estava ferida e à procura de um lugar seguro, aonde pudesse ficar ao lado de alguém que a protegesse e não a ferisse mais. A intenção daquele pequeno ser ao tocar no soldado foi a de acariciá-lo, num gesto inédito de afeto para os dois.

O soldado ficou alguns instantes paralizado, pensando... Este será o único momento bom que ele guardará deste período. Resta a ele aguardar o retorno daquele incrível e improvável ser cintilante, que brilha dourado e azul. Não se sabe se a borboleta voltará, pois algumas coisas só nos acontecem uma vez durante a vida. Mas apesar da circunstância, ele mantém sua fé e acredita no retorno.

O céu já não é mais tão cinza. Agora ele guarda dentro de si o brilho dourado.

 
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Parte 2 - A resposta


06/12/12
Xxxxx <####### @ ###mail . com>
para Heric <####### @ ###mail . com>

Cara, o que posso te dizer agora e que talvez vc não saiba é que a borboleta não era tão cintilante assim, ela tb já estava ferida.
A guerra acontece pra todos, mesmo que no voo mais alto ela não tenha demonstrado feridas, cansaço e dor.
Ela só queria um porto, uma proteção e que pudesse com a proximidade do soldado se lembrar das alegrias de ser borboleta, que não precisava perder o brilho e cor, mesmo na guerra.
Ela se viu no soldado, que se viu na borboleta.
Ela não queria tão somente tocar, mas também ser tocada.
Neste momento ela não está escondida e sim perdida, atordoada, tentando mesmo ferida recuperar a capacidade e a vontade de voar.


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Parte 3 - O fim (?)

Ainda avistei a borboleta em algumas ocasiões, mas há um mês ela não aparece. Não sei o que dizer; Não sei o que pensar. Fica um estranho sentimento de perda e uma doce ternura... Só queria olhar em seus olhos durante cinco minutos, em silêncio, para te sentir por dentro, olhar as emoções estampadas em seu rosto e descobrir coisas em ti que você não consegue expressar em palavras. Era este o silêncio que gostaria de ter com você. Emoções silenciosas. Talvez um dia, ou nunca mais. Ainda não sei. Fecho meus olhos e vejo seu sorriso.

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